"50 anos depois de Cristo, o apóstolo Paulo já falava do valor do esporte para as pessoas. Nos seus escritos, ele menciona dois esporte: a corrida e a luta. Também analisa o bom exemplo do atleta, que disciplina seu corpo "para alcançar uma coroa". Mas, Paulo vai além das competições esportivas: ele chama nossa atenção para o lance real do jogo da vida. Neste jogo, gostando ou não , somos todos atletas. E aqui não é o mais forte ou veloz que recebe o prêmio, mas sim aquele que confia sua vida a Jesus, o Campeão dos campeões!"

(Thiara Mandelli Basso - Tri Campeã Paranaense de Longboard)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A EVOLUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO JUDÔ: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES


Durante o ano de 1998, foi realizado um projeto de pesquisa intitulado Metodologia do Ensino da Educação Física sob a Ótica Crítico-Superadora: o Judô como elemento da cultura corporal. O objetivo principal do projeto era elaborar uma proposta de metodologia de educação física tendo o judô como conteúdo, capaz de superar os atuais arranjos do ensino do mesmo, por entender que “o judô foi, entre nós, totalmente  espojado de seus significados culturais, recebendo um tratamento exclusivamente técnico” (Bracht et al.,1992:76).

Fundamentalmente, procuramos indicar uma dentre muitas possibilidades de trato com o conhecimento judô, a partir de um projeto político-pedagógico3 que entende a escola pública brasileira como um dos espaços sociais mais importantes à construção da hegemonia das classes populares (Libâneo, 1984).
Como sabemos, a historicização dos conteúdos de ensino é uma característica da proposta
crítico-superadora (Bracht et al., 1989).
Nesta, o método de ensino é, por assim dizer, o movimento de um conteúdo na história (Escobar, 1997). Portanto, ensinar judô nesta perspectiva, exige captar o seu movimento na história, o que quer dizer que não basta o aluno ter domínio sobre as técnicas e os fundamentos dessa luta desprendidos, descolados de seu
movimento histórico (ibid.). Quando o currículo de educação física ensina as técnicas do judô como algo com valor em si mesmo, evidentemente contribui para o desenvolvimento nos alunos de uma consciência do mundo que os cerca como algo que tem valor em si mesmo, ou seja, dentro dos princípios da lógica formal
(Lefebvre, 1983; Vázquez, 1968; Cheputlin, 1982),

ORIGENS DO JUDÔ
Pontos essenciais a serem trabalhados com
aos alunos:
. Isolamento geográfico do Japão
- não possuíam bom desenvolvimento tecnológico: armas, materiais etc.
. Latifúndio
- a formação pelos grandes proprietários (Daymos) de terra de guardas particulares (samurais);
- conflito entre estes grandes proprietários no período Shogun (época feudal japonesa).O jiu jitsu
- parte da formação dos samurais;
- bastante difundido entre os camponeses por que não necessitava maiores implementos como a espada, por exemplo, cujo custo econômico e por ser símbolo de poder estava restrita aos samurais. No jiu jitsu,
basta o uso do corpo, luta de golpes contundentes e de morte;
- fundamentos do jiu jitsu que mais tarde foram incorporados ao judô (embora sob outra ótica, como veremos): ser uma luta corporal, apreensão do adversário com o uso de braços e de pernas (ne waza), chaves (kansetsu waza), torções e estrangulamentos (shime waza).

SURGE O JUDÔ
Pontos essenciais a serem trabalhados com
os alunos:
. A urbanização do Japão
- surgem grandes cidades (Nagasaki, Hiroshima, Osaka.) com presença do Estado, da Polícia, do Sistema Judiciário etc.
. Jigoro Kano
- homem que marcou seu tempo e grande precursor do judô.

Comentários auxiliares.
Nesse outro contexto histórico, o Japão inicia sua modernização e urbanização com a emergência do capitalismo. Seus contatos com outros povos e países cresce e, sobretudo, com a superação do sistema feudal e da era dos Samurais, perde sentido a necessidade de uma luta com golpes de morte. Além disso, a
modernidade trouxe consigo as leis, a justiça, a polícia, enfim, uma nova necessidade histórica para o povo japonês: o convívio urbano. A partir de uma nova necessidade social, surge também uma nova prática corporal: o judô. Seu precursor, Jigoro Kano, pensou numa luta que mantivesse as tradições culturais japonesas, mas que se adequasse aos novos tempos, nos quais não fazia mais sentido lutar até a morte.

PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DO JUDÔ
. Quedas e rolamentos;
. Equilíbrio x desequilíbrio;
. Projeções;
. Imobilizações;

Comentários auxiliares.
É nesse contexto histórico específico que começa a fazer sentido o aprendizado do judô e de seus fundamentos. As condições objetivas da sociedade japonesa possibilitaram o surgimento desta nova prática corporal que, a partir das concepções de Jigoro Kano começa a delinear-se como uma luta com as características mencionados no item II e cujos fundamentos essenciais são as projeções, o jogo entre
desequilíbrio x equilíbrio, as imobilizações, as quedas e os rolamentos. Assim, mesmo o ensino das técnicas e dos fundamentos do judô não ocorre de forma isolada e estática, mas sim dentro de um contexto sociocultural que lhe dá sentido e significado histórico. Portanto, as técnicas do judô também possuem sua origem, sua gênese. O ensino deixa de ser alienante, pois o aluno, além de fazer, sabe porque está fazendo. Sabe, também por exemplo, que as quedas e os rolamentos possuem um significado histórico, qual seja: eliminar as contusões traumáticas e contundentes do antigo jiu jitsu que visava à morte do oponente. Assim, ser projetado ou projetar sem que ninguém saia machucado é parte integrante da luta do judô, que, portanto, só pode ser bem praticada quando aprendemos corretamente como defender nosso corpo e o dos
outros praticantes, através da correta execução de quedas e de rolamentos, enquanto formas de amortecer o impacto de nosso corpo no Dojô.
Para isso, inclusive, torna-se necessário o aprendizado de aspectos anatômicos e biomecânicos destas técnicas, que explicam o porquê do amortecimento (diminuição de impacto...), a importância da contração da musculatura que envolve o gradil costal (especialmente o grande dorsal) (Dângelo e Fattini, 1998).

E O JUDÔ VIRA ESPORTE-ESPETÁCULO
Pontos essenciais a serem trabalhados com os alunos:
. Maior contato da cultura japonesa com a
cultura ocidental
- imigração de japoneses;
- as características do esporte-espetáculo (selecionar mais aptos, aptidão física, treinamento exaustivo, busca de rendimento, só interessa a vitória, dopping)
- Olimpíada em Tóquio (1964);
- Guerra-Fria e uso político-ideológico do judô.
. Processo de treinamento desportivo no judô.
- visitar uma academia/clube onde ocorra treinamento competitivo de judô;
- experimentar aspectos básicos de uma sessão de treinamento desportivo de judô;
- conhecer as regras oficiais básicas internacionais do judô;
- organizar um torneio de judô que simule a realidade de uma competição internacional deste esporte e, ao final, refletir sobre o mesmo com auxílio do professor.

JUDÔ E SUAS MÚLTIPLAS RELAÇÕES EM
NOSSA SOCIEDADE
Educação
- as escolas no Brasil ensinam judô? Sim ou não e por quê? O que nossos avós, pais, amigos e parentes sabem sobre judô?
- que importância pode ter o ensino do judô num país como o Brasil?Lazer
- prática do judô, assistir a lutas, a filmes e a vídeos, ler livros sobre judô etc;
- o local onde moramos e a nossa cidade em geral oferece oportunidades de lazer com o judô?

Saúde
- judô como uma opção de prática regular de atividade física;
- as condições econômicas e sociais para que isso ocorra.

Meios de comunicação
- judô na programação esportiva da televisão e do rádio;
- nos jornais e nas revistas esportivas.

Comércio
- quais são os acessórios e os equipamentos mais usados no judô e como eles são vendidos nas lojas de material esportivo?
- quem são os consumidores de material esportivo de judô? Qual o poder aquisitivo deles?
- equipamentos e materiais para a prática do judô, a realidade da escola e sua comunidade e a busca de soluções.

Gênero
- o judô é para homens ou para mulheres ou para ambos?
- o judô como defesa pessoal para mulheres.

A CHEGADA DO JUDÔ AO BRASIL
. A necessidade de mão de obra especializada vinda do estrangeiro;
. O judô como forma de matar a saudade da terra natal;
. O desemprego e o surgimento das primeiras academias de judô no Brasil;

Comentários auxiliares.
Durante as décadas de 20 e de 30, o Brasil iniciou seu processo de modernização. O país começava a superar um passado marcado pelo trabalho escravo, pelo período colonial e, depois, pelo império, com a maior parte da população vivendo no meio rural e com a economia baseada na agricultura. O país começava a industrializar-se e a adquirir vida urbana. Iniciava-se a construção histórica do modo de produção capitalista entre nós. Nesse contexto, predominava a noção de que os escravos, recém-libertos, não eram a melhor mão-de-obra necessária para o desenvolvimento do país. Nessa ótica, seria preciso buscar mão-de- obra especializada no exterior, em países como a Itália, a Alemanha e o Japão, por
exemplo.É assim, com a chegada de imigrantes japoneses, que o judô chega junto com eles ao Brasil. No início, o judô era uma forma de matar as saudades da terra natal, isto é, uma maneira de os japoneses manterem suas tradições e sua identidade cultural. Posteriormente, quando alguns desses imigrantes, já cidadãos e trabalhadores brasileiros, ficam desempregados, sem fonte de renda e sem poder sustentar suas
famílias, surgem as primeiras academias de judô no Brasil. Elas surgem como uma forma encontrada pelos imigrantes de ensinar algo que eles conheciam profundamente, o judô, fazendo disso um meio de sustento para suas vidas. Com isso, muitos brasileiros também começam a aprender o judô, sem falar dos filhos dos
imigrantes japoneses, nascidos no Brasil, que também ajudaram a difundir esta luta entre nós.

FINALIZANDO... UMA PROPOSTA
EM ABERTO
Vários pontos ainda permanecem obscuros ou mal iluminados no tocante ao judô como conteúdo para aulas de educação física. Um deles é a própria chegada do judô ao Brasil. Faltam mais elementos que permitam aprofundar esse tópico. As pesquisas em história da educação física e dos esportes têm dado, até então, pouca atenção à sistematização dos conteúdos de ensino (não apenas o judô). Com relação ao início da participação da mulher no judô, encontramos somente uma monografia de final de curso, produzida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, trata-se do estudo de Silva (1994). Mais uma vez a fonte é
insuficiente, são necessários mais estudos a esse respeito. Sobre a esportivização do judô, não encontramos nenhuma fonte específica, o que nos fez recorrer à história geral do esporte. Enfim, há material bibliográfico sobre o judô que pode nos auxiliar em nosso intuito, porém ele encontra-se disperso e é fragmentário, ou
ainda integra, muitas vezes, o arquivo pessoal de aficionados ou de ex-judocas. Temos clareza de que nossa tarefa apenas começou que se trata de uma tarefa que merece ser perseguida.
Outro exemplo disso é o tópico sobre a história do judô em Goiás. Ora, como podem nossas escolas não ensinar isso a seus alunos? Novamente as fontes, os documentos e as bibliografias tornam-se escassas. No entanto, restou-nos o recurso da pesquisa historiográfica, já que o sansei Lhofei Shiozawa (que esteve
presente pela seleção brasileira de Judô na olimpíada de Tóquio) mora em Goiânia há muitos anos e é história viva do judô brasileiro e goiano. Lançando mão de técnicas de história oral, podemos construir, por exemplo, uma biografia desse judoca veterano, que certamente iluminará aspectos importantes da história do
judô em Goiás, ajudando-nos nesta tarefa entre outras.
Portanto, este é um trabalho em construção e representa apenas uma sistematização inicial e introdutória ao conteúdo judô nas aulas de educação física. O aprofundamento desta investigação depende da continuidade do trabalho de pesquisa bibliográfica e, sobretudo, da produção de conhecimento novo, capaz de iluminar aspectos ainda obscuros deste conteúdo (e eles não são poucos, como vimos), seguida de posteriores sistematizações que possam, pouco a pouco, no diálogo com a prática, enriquecer e ampliar esta nossa proposta inicial, principalmente no que diz respeito aos possíveis erros aqui contidos.
A sistematização do conteúdo judô nas aulas de educação física nunca será um estado final ao qual poderemos chegar, ela será muito mais um processo permanente de construção de uma dada proposta pedagógica. E, por pensar assim, acreditamos que nossa caminhada nesta longa jornada já começou. Agora nossa intenção é tornar esta viagem do conhecimento algo cada vez mais consistente. Como se costuma dizer, a sorte foi lançada, quer dizer, nossa proposta inicial de sistematização do conteúdo judô nas aulas de
educação física está aí. E que o jogo continue, ou melhor, que esta luta nunca pare.

Autores: 
Orozimbo Cordeiro Júnior
Marcelo Guina Ferreira
Anegleyce T. Rodrigues

Artigo: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/3809

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